Anos atrás, estava conversando com um colega, falando sobre o passado, e percebemos como a relação entre civis e militares, na quantidade de mortos, havia se modificado drasticamente. Em guerras de cem, duzentos anos atrás, até mais antigamente que isso, a quantidade de civis mortos era extremamente alta em relação ao numero total de mortos.
De qualquer forma, não havia entidade supranacional para regular, estruturar ou fiscalizar qualquer coisa que fosse. Com a evolução das leis internacionais e com a própria estrutura dos exércitos, que passaram a montar bases de guerra em locais não civis e que eram devidamente identificados como soldados, houve uma reversão em relação ao número de civis mortos em relação ao número total. No Oriente Médio, e mais particularmente Israel e seus vizinhos, pôde ser visto em 1948 o que pode-se chamar de preocupação dos sete exércitos árabes (Egípcio – Saudita – Jordaniano – Libanês – Sírio – Iraquiano – “Palestino”) em proteger os civis do recém povo criado: Os “árabes palestinos”. Em 1948, um dia após a proclamação da independência do Estado de Israel (até então aquela terra era de domínio Britânico), os sete exércitos árabes proclamaram guerra ao minúsculo Estado de Israel e pediram que os civis árabes, que viviam na Zona de Combate (Israel), se retirassem para que se tornasse mais fácil a “varredura dos judeus” para o Mediterrâneo. A grande maioria dos que aceitaram a recomendação dos exércitos árabes saíram de toda aquela região ou foram para a Cisjordânia ou Gaza, virando assim, pelo menos em termos de nomenclatura: Refugiados. Aos poucos árabes que resolveram ficar, após a vitória israelense, foi oferecido, por parte de Israel, cidadanias israelenses. Muitos deles viviam em Haifa, cidade famosa pela coexistência entre árabes e judeus e que, 58 anos depois, vem sendo destruída pelo Hizbollah.
Retornando ao ponto, em 1948 o que pôde-se observar foram exércitos árabes contra o exército de Israel. Uma guerra então entre exércitos. De fato houve baixas civis, mas essas baixas eram pequenas, se comparadas às baixas militares, pois é isso que ocorre numa guerra convencional. Em 1956, 1967 e em 1973, novamente houve guerras entre os países árabes e Israel. Guerra entre exércitos.
Os países árabes viram então, empiricamente, que não seria fácil e simples destruir algo que para eles era simplesmente inadmissível: a existência do Estado de Israel. Pode-se dizer que o terrorismo do Hamas, da Jihad Islâmica, do Fatah, do Hizbollah, da Al Quaeda, do ETA, do antigo IRA, das Farcs e de muitos outros espalhados pelo mundo, é um reconhecimento de que seu poderio militar aberto é extremamente limitado e que através de guerras convencionais eles não conseguirão eliminar seus inimigos e/ou atingir seus objetivos.
Por: Saulo da Rocha, coleguinha de André na FCE-UFBA
Um comentário:
Saulo, coisa interessante também que se discute há algum tempo é a dispersão destes grupos terroristas entre os civis. Os militantes ou soldados destes grupos estão na verdade dispersos entre a população de seu país árabe, sem que se organizem muito claramente em torno de um exército, o que de fato dificulta a atuação militar de países atacados. E este talvez seja o maior trunfo da ação terrorista no mundo: não está em lugar nenhum para ser eliminada e ao mesmo tempo pode atuar em qualquer lugar.
Ora, será que isso não representa um tipo de tendência ao bombardeio de áreas onde aja grande concentração de civis? Tenho pra mim que muitos já devem ter sido atingidos nesse contexto, injustamente, ao passo que muitos militantes desconhecidos também devem ter sido mortos e contabilizados enquanto civis. E pior: tanto terroristas quanto nações ou países organizados não parecem estar muito preocupados com este contingente inocente.
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