Bobbio aos 87 anos
"A sensação que experimento em estar ainda vivo é sobretudo de assombro, quase incredulidade. Não sei explicar por que ventura, protegido, sustentado, amparado pelas mãos de quem, consegui superar todos os obstáculos e perigos até mortais, doenças, acidentes, desastres naturais, as infinitas desgraças pelas quais a vida humana é assolada desde a hora em que nasce. Com freqüência volta à minha mente estre trecho de Achille Campanile - o humorista mais amado de minha geração -, que li há muitos anos: 'Esses velhos sempre me espantaram. Como é que conseguiram superar sãos e salvos tantos perigos e chegar à idade avançada? Como fizeram para não morrer atropelados, como lograram superar as doenças mortais, como conseguiram evitar uma telha, uma agressão, um acidente de trem, um naufrágio, um raio, um tombo, um tiro?... Realmente, eses velhos devem ter parte com o demônio! E alguns deles ainda ousam atravessar a rua lentamente... estarão loucos?'"
BOBBIO, Norberto. O tempo da memória. De Senectute e outros escritos autobiográficos. Rio de Janeiro: Campus, 1997.
Um comentário:
ahe, viva meu pai, finalmente deu seu ar da graça por aqui.
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