quinta-feira, junho 29, 2006
Final de Semestre
O texto abaixo é a introdução de um roteiro preparátorio para o projeto da monografia. Críticas e sugestões são bem vindas.
Ciclos Políticos-Orçamentários: a influência das transferências voluntárias na reeleição e nos indicadores sociais dos municípios baianos de 1996 a 2004.
1 – Introdução
Em 2004, no último debate televisionado entre os candidatos a prefeito de Salvador, César Borges (PFL) perguntou a João Henrique (PDT) como ele como prefeito conseguiria recursos federativos para a cidade de Salvador, se seu partido fazia oposição tanto ao governo federal quanto ao estadual.
Percebam a mensagem implícita na pergunta de César Borges; o eleitor de Salvador considera um bom administrador o prefeito que consegue mais recursos para o município.
Este fato ocorreu em Salvador, mas poderia ter ocorrido em qualquer município da Bahia ou do Brasil. Os recursos (fiscalmente conhecidos como transferências voluntárias) do governo federal e/ou estadual que um município recebe, dependem da capacidade de articulação do prefeito com executivo federal e/ou estadual, e isso é levado em conta pelos eleitores na hora da eleição.
Este é o senso comum da população de Salvador, mas será que ele esta corretamente fundamentado? As transferências voluntárias são politicamente motivadas? Elas influenciam as eleições municipais? Os indicadores sociais? O crescimento econômico?
Para mostrar como responder estas perguntas, o presente Termo de Referência está organizado da seguinte forma; este é o capítulo da introdução, no segundo capítulo explicarei o modelo clássico dos ciclos políticos-orçamentários a partir do trabalho seminal de Rogoff (1990), no terceiro capítulo explicarei como Bugarin e Ferreira (2003, 2004), adaptaram estes ciclos ao federalismo fiscal brasileiro tendo como objeto de análise o município, no quarto capítulo explicarei os testes econométricos que pretendo realizar, e no quinto capítulo se encontra a conclusão do artigo.
terça-feira, junho 27, 2006
Achando Amiguinhos
Bacana essa net, né?
segunda-feira, junho 26, 2006
Clipping
- Minha namoradinha querida montou um blog novo.
- Post do Claudio do Gustibus:
"A cultura importa? Sim. Mas me mostre como testar isto, senão não vale
Lembra deste artigo do Scheinkman? Pois ei-lo, agora, completo.
Como sempre, eis a forma de economistas estudarem a influência da cultura em problemas sociais."
- Estou agora com internet a cabo aqui em casa, Viva. Espero postar com mais frequência por aqui.
terça-feira, junho 20, 2006
Puta que Pariu
Agora não sei o que faço com a coleção quase completa da revista... estou orfão de uma revista mensal inteligente e de um blog político diário decente.
domingo, junho 18, 2006
Clipping
- Além do concurso estou preparando o projeto da minha monografia, semana que vem eu coloco aqui um texto explicando o que pretendo fazer.
- Achei mais um futuro blog de economia, o Página €conômica.
- Esta terça-feira vai ser o lançamento do livro Como Anda Salvador, que meu pai organizou. Vão ocorrer palestras durante todo o dia no CRH. Eu vou estar lá na parte da tarde, apareça lá boxel.
Uma coisa interessante sobre o livro é que um capítulo foi escrito por meu professor da FCE-UFBA Paulo Henrique, sobre a historia recente da economia soteropolitana, eu pretendia até ler mas desisti, o artigo tem 44 páginas.
segunda-feira, junho 12, 2006
Ética e Moral em Roberto Romano
"O professor e filósofo Roberto Romano demole o mito de que uma sociedade eticamente perfeita seria um paraíso: ao contrário, ela poderia conduzir ao esmagamento da moral, que dá norte às escolhas individuais. A partir dessa constatação, ele analisa a ética abstrata e exclusivista do PT e a herança totalitária do pensamento marxista. Diz-nos por que Santo Tomás de Aquino, ao unir o elemento especulativo ao prático, é, ainda hoje, um pensador fundamental e expõe as suas preferências por Spinoza, Nietzsche e Elias Canetti."
domingo, junho 11, 2006
Jorge Amado
Soneto de Agradecimento A Jorge Amado
Nasce de tudo nas Amadas linhas.
De tudo brota quando a terra respira
O homem; calado se ser que estira
Para viver esperanças náufragas.
Nessa Bahia de céu, terra, povo e ar
Por tanto olhar e tanto sentir ao dizê-la,
Num cotidiano belo como amor de rameira,
Pintou a Bahia para nos lembrar
Que há algo entre a fome e a dança,
Entre o gingado e a greve no porto,
Na rebeldia da vadiagem mansa
Dum povo que vive nu e absorto.
Te guardo numa lembrança Jorge, mansa e
Amada: agora amo mais a nossa Bahia.
Rodrigo Lessa
Jorge Amado sempre me encantou muito. Tem uma forma original de falar da Bahia sem exagerar em estereótipos, sem esconder o que poderiam ser características desagradáveis de um povo muito denso culturalmente. Seu herói é agressivo, sua donzela uma rameira, seu amante um infiel. Mas a Bahia é isso. É a pureza num campo insalubre, é o amor original, que não nasce de uma estória insossa de idealismo moral. Jorge Amado tem um olhar romântico sobre a Bahia, mas não finge a essência do que vê para realizar este olhar. A Bahia é nele a idoneidade e a transgressão num só universo, e por tudo isso pode ser bela ao olhar de um homem apaixonado.
A razão, pela compreensão, deságua na emoção de senti-la mais profundamente. Essa Bahia que agente nunca sabe o que é, nem nunca saberá, mais pode se dar ao prazer de sentir. Este soneto foi minha forma de figurar um agradecimento a tudo isso.
sexta-feira, junho 09, 2006
Teoria dos Jogos na Política Brazuca
"Verticalização 13: TSE recua, adota a lógica política e diz que
eleições de 2006 vão usar as regras das coligações de 2002
O TSE havia decidido aprofundar a regra da verticalização, determinando que a coligação nacional, fechada para sustentar uma candidatura à Presidência da República, teria de ser seguida obrigatoriamente nas coligações para as disputas estaduais"
Pois é, mas como eu já tinha pensado a análise a partir da teoria dos jogos, eu a escrevo assim mesmo, é o seguinte:
Dos partido principais PT e PSDB tem estratégias dominantes de tentar atrair os outros partidos para sua órbita.
PFL e PMDB são os grandes players do jogo e suas decisões afetaram todos os outros (PP, PTB, PV, PPS, PDT, PRB) por exemplo:
1- Se o PFL fechar com o PSDB, o PPS também participa da coligação atraindo provavelmente também o PDT e PV e influenciando também a escolha dos demais.
2- Agora, se o PFL não fechar com o PSDB, então nem PPS, nem PDT, nem PV, nem ninguém fecha com o PSDB, que possivelmente nem tem mais candidato a presidente pois prejudicaria em muito a eleição do partido como um todo e de Serra e Aécio em especial.
O jogo teria dois equilíbrios de Nash, ou todos os partidos citados ficavam sem apoiar nenhum candidato a presidência ou todos escolheriam um dos dois candidatos.
No primeiro caso teríamos uma disputa eleitoral praticamente sem concorrentes pro Lula e no segundo uma disputa no estilo dos EUA, com o eleitor escolhendo entre apenas dois candidatos viáveis eleitoralmente.
quarta-feira, junho 07, 2006
Futebol
Eu já falei que investir em um novo clube de futebol em Salvador seria uma ótima idéia.
Outra evidência disso é que pela primeira vez em quase 40 anos um time do interior ganha o campeonato baiano, neste ano foi o Colo-Colo de Ilhéus campeão dos dois turnos.
Outra evidência de que os torcedores baianos gastam dinheiro com clubes é a nova campanha do E.C.Bahia de arrecadar dinheiro com os torcedores.
Notícia Extra
Apagão na sucessão 3 — Com a bagunça institucional que está em vigência no Legislativo e no Executivo, Judiciário expõe fúria legiferante; mais do que julgar, faz as leis... 1h55
Apagão na sucessão 1 – Por 6 votos a 1, TSE decide que a aliança federal tem de ser totalmente repetida nos Estados, o que muda a interpretação vigente sobre a verticalização 1h59
Notícias Em Tempo Real
07/06/2006 ¦ 00:26
Como o TSE decidiu
Do site do TSE:
"O Plenário do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmou nesta terça-feira (06) a aplicação da regra da verticalização para as eleições de outubro próximo. A decisão foi proferida no julgamento da Consulta (CTA) 1225 formulada pelo diretório nacional do Partido Liberal (PL)."
A Corte explicitou que o partido que optar por concorrer à presidência da República com candidato próprio ou em coligação com outra legenda terá de ser fiel nos Estados a essa aliança, ou disputar sozinho.
Vamos ver se esse é mais um furo de reportagem do blogs.
domingo, junho 04, 2006
Navalha Na Carne
A idéia se perfaz sob a relação de três indivíduos em condição degradável de pobreza: uma prostituta, seu cafetão e amante e um homossexual. No quarto de pensão onde a estória acontece, os três travam diálogos fortes, regados de sarcasmo, agressividade e despudor, suscitando brigas e insultos gratuitos que parecem por à flor da pele de quem assiste toda a indignação de suas almas, afundadas no desgosto de uma vida miserável é difícil.
Mas a grande qualidade da peça terminou sendo a interpretação do elenco. Como foi fato a falta de recursos para investir em cenário e outros elementos da peça, a produção se valeu desta mesma condição para improvisar com eficiência no cenário, e principalmente depositar nos atores - nos seus próprios corpos em especial - a vivacidade da representação. A performance dos atores em cena é permeada pela mesma agressividade viva e intensa do conteúdo: os atores não economizam nos puxões, nos empurrões, nos tapas e atitudes que caracterizam a revolta de seus personagens; o corpo é aqui, a parte mais importante do cenário. Tudo isso na metade de uma sala de aula adaptada, onde o público se coloca sentado muito proximamente (praticamente dentro) ao “palco”. A estória não perde portanto (ainda que pese a dificuldade encontrada na produção), a capacidade de exprimir a densidade e a explosão daquela relação de personagens tão naturalmente carregados pelo quadro miserável e árduo de suas experiências.
Este tipo de iniciativa já se transformou como bem sabemos, em estética cinematográfica, no realismo italiano, com Roberto Rosselini, e no nosso conhecido cinema novo brasileiro, liderado pelo saudoso e polêmico Glauber Rocha, sob influência do próprio realismo. Transformar a ausência de recursos de uma forma de expressão artística (o cinema) - que depende de financiamento mais do que qualquer outra - em motivo para recriá-la de forma incrivelmente criativa, corresponde à essência da coragem destes cineastas.
A produção e o elenco de Navalha Na Carne, embora não tenham desenvolvido um tipo de estética teatral baiana – nem é talvez essa a sua intenção -, foram eficientes na adaptação do texto com a realidade do teatro de que dispõem. Palmas à coragem e à paixão viva deste teatro.
Por Rodrigo Lessa
sexta-feira, junho 02, 2006
Minha Birra com o PT
CC- Um dia fui ver meu pai e o apostrofei dizendo: "não entendo como é que você pode ser antifacista sem ser comunista". Porque claro pra mim o facismo como ensinava a Internacional, nada mais era do que uma expressão do mal do capitalismo. Então meu pai ficou pensando, pensando... E ele me disse algo que à época me indignou e que hoje acho completamente interressante. Ele me disse "No fundo, no fundo, eu era antifacista porque achava os facistas tão vulgares!".
PL- A Resposta é Maravilhosa"
CC- Não é uma resposta perfeita? Acho que a gente pode ser militante, passar o inverno de 1944 nas montanhas, pegar em armas e combater a vulgaridade. É uma causa perfeitamente defensável.
PL- A busca da elegância pode dar uma bela guerra...
CC- Sim. Existem formas de vulgaridade contras as quais é preciso lutar porque são expressões de uma ética.
Clipping
- O Joselmar do Olhar Econômico voltou a bloggar.
- O Olavo de Carvalho e suas frases:
"A única ética imperante no jornalismo nacional consiste em mentir a favor do lado certo. A chave do enigma reside portanto em saber o que é que entendem por "lado certo".
- Eu vivo dizendo a boxel que sociólogo não gosta de internet, comparem os sites das associações nacionais de pós-graduaçãos em sociologia e em economia e vocês vão ver.
Por sinal, o Encontro Nacional de Economia deste ano será em Salvador, viva!
- Digam se não dá medo o texto intrdutório do blog A Mão Invisível;
"A Mão Invisível é a face visível dessa tenebrosa urdidura global das direitas coligadas pela defesa do imperialismo capitalista, dissimulada numa verve bem-pensante e empenhada em descredibilizar o esforço planetário das forças progressistas."
quinta-feira, junho 01, 2006
O Inglês é o de Menos...
ROGOFF, Kenneth. Equilibrium Political Budget Cycles. The American Economic Review, Vol.80, No. 1 (Mar., 1990) pp 21-36.
FERREIRA, Ivan Fecury Sydrião. BUGARIN, Maurício Soares. Ciclo Político-Orçamentário no Federalismo Fiscal Brasileiro: O Papel das Transferências Voluntárias no Resultado das Eleições Municipais. XXVI Encontro Brasileiro de Econometria
Não seria o caso de comprar um dicionário da linguagem matemática? André.
AsquintaS em Inglês
Criamos até um blog com esse nome para postarmos os textos que seriam discutidos nas próximas reuniões, mais ou menos como Guillermo faz nas discussões que ele tem no Orkut.
Com o tempo as reuniões que eram nas quintas, foram pro domingo, depois ficaram sem dia definido, até que não aconteceram mais, restando apenas o blog.
Por que estou escrevendo isso?
Porque terça a noite, conversando com meu pai e meu irmão decidimos que ao invés de freqüentarmos um curso de inglês seria melhor nos reunirmos regularmente em um dia e horário definido no qual conversaríamos em inglês sobre assuntos que dois dos participantes trariam e apresentariam.
Pois bem, hoje é quinta feira, no exato dia e hora combinados e estou aqui a escrever este post enquanto meu pai foi no cinema e meu irmão saiu com algum amigo...
Mas não se preocupem que eu não vou desistir do projeto não, só percebo uma certa ciclicidade nisto tudo, já participei de tantos projetos voluntários que inicialmente são espontâneos e depois os participantes perdem a animação que acho tudo muito normal, só fica estranho isso acontecer logo na reunião de estréia. André.
Interpretações Em Sociologia - 2a Parte
II. Em A Representação do Eu Na Vida Cotidiana, E. Gooffman elabora um manual sobre alguns aspectos da representação dos indivíduos quando em relação com outrem. A fachada existe para ele como um desempenho do indivíduo na forma de equipamento expressivo direcionado a definir a situação para os observadores da representação (Goffman, 1985). A configuração da fachada leva em conta um “cenário” – espaço físico propriamente dito - e o que poderia chamar-se de “fachada pessoal”, reunido aqui os itens expressivos de caráter íntimo: vestuário, atitude, padrões de linguagem, etc.
Esta fachada pessoal, ainda em Goffman, pode ser dividida em “aparência e maneira, de acordo com a função exercida pela informação que estes estímulos transmitem. Pode-se chamar de “aparência aqueles estímulos que funcionam para nos revelar o status social do ator (...) e maneira os estímulos que funcionam no momento para nos informar sobre o papel de interação que o ator espera desempenhar na situação que se aproxima”.
O primeiro contato dos forasteiros com Heráclito apresenta sem dúvida uma composição bem particular deste tipo de representação. Temos de início um cenário - que corresponde ao humilde abrigo de Heráclito - e uma fachada pessoal - o que poderia se definir como o seu comportamento - em evidente estado de desarticulação lógica ou habitual, por assim dizer, com a sua condição de sábio. Embora o papel a ser cumprido por ele ali seja realmente o de um sábio, reafirmado pelo diálogo que irá travar com os forasteiros (a não ser que ele se negue mesmo a faze-lo), o cenário de representação em que ele atua, tal qual a maneira e a aparência que ele transmite, não estão condizentes com a expectativa dos forasteiros, que de alguma forma reproduz a perspectiva comum. Esta expectativa estava direcionada a “traços do excepcional e do raro e por isso do emocionante”, o que de fato não foi sugerido neste “fato comum e sem encanto, de alguém estar com frio perto do forno”. Daí o estranhamento.
E tudo por um motivo bem simples: “além da esperada compatibilidade entre aparência e maneira, esperamos naturalmente certa coerência entre ambiente [cenário], aparência e maneira”. A percepção do comportamento de um sábio, e portanto do significado a que o conceito remete, é visivelmente diferente entre o filósofo e os forasteiros; logo, incompatível aos olhos destes. Por qualquer motivo a elaboração mental que cada agente faz de um sábio não tem uma proximidade muito clara: para Heráclito não há problema em parecer simples, mas aos curiosos isso é um motivo de desconfiança sobre a sua condição de sábio.
Entretanto, de forma alguma poderíamos concluir como sendo precipitada a conduta dos forasteiros: tomar a aparência pelo conteúdo é algo altamente comum e em alguma medida intrínseco as relações humanas, pelo simples fato de ser dificílimo encontrar nas ações dos indivíduos, dicas do que eles são na realidade. “Em resumo, como a realidade em que o indivíduo está interessado não é percebida no momento, em seu lugar terá de confiar nas aparências. (...) É aqui onde os atos comunicativos se traduzem em atos morais. As impressões que os outros dão tendem a ser tratadas como reivindicações e promessas que implicitamente fizeram e estas tendem a adquirir um caráter moral” (Ibdem). É imprescindível, pois, que depositemos nas relações um mínimo de segurança, ainda que superficial, sobre como nosso interlocutor irá responder aos nossos estímulos.
(Vejam como os padrões e valores de que falamos só existem através da interação, e por isso se mostram passíveis a – constantes – re-interpretações de seu significado ou necessidade, por assim dizer).
III. Porém, de algum modo, Heráclito parece ter tido consciência disso. A reação dos curiosos lhe pareceu um tanto previsível pela reação que lhe acometeu, em “recorrer” aos deuses para garantir que entrassem e satisfizessem a sua curiosidade. E para isso também existe um motivo bem particular. “É sabido que, desde Heráclito até Isócrates, soa um único brado:‘Todas as leis humanas são alimentadas pela lei divina’” (Touchard, 1970).
É bastante sólida em sociologia a idéia de que os costumes que envolvem a religião ou algum tipo de divindade particular remetem às raízes morais mais profundas em que se fundamentam as sociedades. Os mitos e crenças possibilitam uma força cultural eficiente para manter grupos sociais moralmente integrados e portanto comprometidos com a unidade da sociedade. “Pelo simples fato de terem por função aparente estreitar os vínculos que unem o fiel ao seu deus, elas ao mesmo tempo estreitam realmente os vínculos que unem o indivíduo à sociedade da qual é membro, já que o deus não é senão a expressão figurada da sociedade” (Durkheim, 1996). Com os gregos não parece ter sido diferente. Destarte, podemos sugerir o modo com Heráclito se valeu deste recurso tentar para manter próximos os curiosos que pretendiam se afastar.
G. H. Mead, um dos responsáveis pelos fundamentos do interacionismo simbólico, destacava a idéia de que o indivíduo realiza a sua condição de pessoa através da sociedade, quando esta dispõe, pela comunicação, a substância cultural de que ele deve se valer para tomar consciência do mundo e de si mesmo. É só através dela que o sujeito pode aparecer como pessoa no mundo externo, reunindo, de todas as suas experiências de convivência, a estrutura social de sua personalidade e colocando-se na condição de sujeito e objeto do próprio pensamento (Mead, 1953).
Este processo permite ao sujeito não só tomar uma consciência de si mesmo, quando sua própria pessoa passa a ser um objeto de seu pensamento, como também tratar as outras pessoas como um objeto do pensamento, e com base na bagagem cultural experimental de sua própria vida medir os tipos de interferência que pode suscitar nas outras pessoas. O sujeito “adopta el lenguaje como um médio para obtener su personalidad, y luego, a través de un processo de adopción de los distintos papeles que todos los demás proporcionam, consiegue alcanzar la actitud de los miembros de la comunidad” (Ibdem).
Para alcançar esta experiência anterior Heráclito se vale do que Mead denomina “el mí”, ou “mim”: a pauta de relações que um sujeito apreende em sua vivência para se manter em sociedade, e ser reconhecido por ela. Logo que ele capta este rol de atitudes torna-se por sua vez capaz de responder aos estímulos dos outros indivíduos em sociedade, na forma com que tais estímulos acionam nele as possibilidades de resposta, o que corresponde portanto ao “yo”, ou o “eu”. Ora, se as experiências variam de pessoa pra pessoa, e portanto a pauta de relações é em alguma medida imprevisível, podemos entender como Heráclito foi capaz de suscitar tal estímulo encorajador nos curiosos. Tendo a possibilidade de tomar os forasteiros como objeto do pensamento, e por isso prever a qualidade de uma sua interferência, se valeu da própria pauta de relações para responder de modo criativo, lógico e principalmente moral, à reação dos visitantes. E no caso particular da Grécia, naquele período, nada mais moralmente universal e conciso do que demonstrar proximidade com as leis e predisposições divinas. Heráclito pretende com isso se fazer próximo do divino, e através dele próximo do que é mais elementar na cultura moral de seus semelhantes. Isso, é claro, se os visitantes participam de um universo cultural próximo.
Conclusão. O que o eminente filósofo pretende evitar com sua estratégia é na verdade uma ruptura. A surpresa dos curiosos é causada por uma quebra, mudança ou re-significação na noção moralmente disseminada do “sábio”: alguém com uma fachada que faça jus à sua existência, ao papel que corresponde a sua condição. Heráclito poderá provar com esta primeira lição como estas representações, embora tidas como verdadeiras, são contingentes, culturalmente elaboradas. Uma consciência do funcionamento da sociedade nos permitiria exercitar melhor a capacidade de inovar e transformar hábitos, atos morais de representação, ainda que estes pareçam intrínsecos a um conjunto de papéis que cumprimos socialmente. Humildade não quer dizer indigência, traços do excepcional e do raro não querem dizer sabedoria, tal como culto ao divino. Mas de uma forma ou de outra, estas representações terminam por ser, em alguma medida, eficientes; basta saber lidar com elas.
BIBLIOGRAFIA:
· GOFFMAN, Erving. A representação do Eu Na Vida Cotidiana; tradução de Maria Célia Santos Raposo. Petrópolis, Vozes, 1985.
· BLUMMER, Hebert. Simbolic Interacionism; perspective and method. New Jersey, Inc, 1969.
· GUIDDENS, Anthony e TURNER, Jonathan. Teoria Social Hoje; tradução de Gilson César Cardoso de Souza / JOAS, Hans. Interacionismo Simbólico. São Paulo: Editora UNESP, 1999.
· MEAD, George H. . Espiritu, Persona Y Sociedad; Desde el punto de vista del conductismo social. Buenos Aires: Editorial Paidos, 1953.
· TOUCHARD, Jean. História das Ideias Políticas; tradução e notas de Mário Braga. Lisboa: Europa-América, Ltda, 1970.
· DURKHEIM, Émile. As Formas Elementares da Vida Religiosa: o sistema totêmico na Austrália; tradução Paulo Neves. São Paulo: Martins Fontes, 1996.