Tudo bem Feijão, já que você está se sentindo tão sozinho no blog vou me utilizar deste tempo que precede a viagem pra comentar as minhas últimas leituras. Hehehe
O primeiro é “O Mulo”, do Darcy Ribeiro.
“Mulo” é na verdade o apelido do fazendeiro pecuarista Philogônio de Castro Maya. Após uma vida inteira de fatos cômicos, heróicos, bizarros e principalmente curiosos que envolvem a conquista de seu vasto patrimônio, seu “Filó” resolve preparar seu testamento, e de pronto decide doar seus bens a um padre qualquer que deve ser escolhido por um de seus capatazes logo após a sua morte, o compadre “Militão”. De sua fazenda dos Laranjos, em Goiás, no início da última metade do século XX, ele passa a escrever uma espécie de confissão ao citado padre que será o seu herdeiro, rogando que o perdoe pelos pecados que a sua vida dura o levou a cometer. Sem deixar é claro, de utilizar a tal fortuna para negociar esta absolvição.
Achei o livro altamente interessante. Já sabemos que este foi um costume histórico dos grandes fazendeiros: doar parte ou a inteireza dos bens à Igreja para conquistar a absolvição divina. O objetivo do livro é justamente o de tomar esta situação para supor o que se passa na cabeça de um destes coronéis ao fazer uma interpretação religiosa de sua vida, o que supõe uma porção de contradições interessantíssimas dado os crimes e atrocidades que terminam por cometer.
Como já me parece ser comum aos grandes prosadores brasileiros, como Jorge Amado (de quem gosto muito), Darcy Ribeiro toma este fato histórico para construir o livro calcado numa proximidade ainda maior com a realidade. Impecável na ironia e sem medo de tocar em temas como racismo, homossexualidade e religião, demonstra como um fazendeiro possivelmente interpretaria estes temas numa confissão com o máximo de sinceridade – afinal, Deus tudo sabe e tudo vê – , e assim, como ele enxerga os problemas sociais em que está envolvido. Além de tudo sua origem é humilde, quase miserável, o que enriquece ainda mais a estória e a própria confissão, fugindo ao ar puramente aristocrático.
Não há também qualquer tipo de preocupação panfletária no sentido de valorizar classes ou grupos sociais em particular, coisa que se torna desnecessária e até prejudicial ao intento de alcançar um máximo de proximidade com a realidade.
Por fim, o livro demonstra um vocabulário riquíssimo, mesclando o culto com um interiorano improvisador gozadíssimo, o que resulta numa prosa agradável e repleta de poesia – no sentido artístico da palavra.
Vale muito a pena conferir, principalmente os que gostam de livros com a cara nua do Brasil, sem melodramas ou militâncias fora de hora.
Rodrigo Lessa
3 comentários:
Fico devendo a do Vinícius de Moraes, pelo menos até a parte que já li da coleção "Obras Completas".
Aeeee, viva, agora sim, meu co-blogueiro de volta por aqui.
Mas quer dizer que vc pretende ler mesmo as obras completas do brother né, aiai, o cara passa vida toda pra escrever o livrinho e vc resolve ler em um mês.... vê se pode um negocio desses...
estou lendo o MULO e eh muito engracado mesmo...to curioso para saber o pq do titulo, ainda nao cheguei lá...
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