A reeleição de Bush nos EUA deixou todos perplexos. Todos sabíamos que ele era burro, preconceituoso e tinha mentido um bocado para entrar em guerra com Iraque pelo petróleo, que a sua reeleição se torna algo inexplicável.
Mas não é que ele se reelegeu e seu adversário, Kerry, ainda afirmava que ia manter a ocupação no Iraque. Nesta eleição os candidatos que receberam 99% dos votos falavam de uma guerra ao terror, tentavam convencer a população dos melhores meios de evitar novos ataques terroristas aos EUA como os do WTC. Ambos com posições bastante parecidas mas sempre tentando convencer a população sobre de que forma ela estaria mais segura.
Assim como criar empregos e a economia são constantemente os principais temas de debates dos candidatos à presidência no Brasil, nos EUA o que a população queria saber é como se proteger desses terroristas que os odiavam e queriam matá-los.
Para este problema o Bush apresentou uma solução mais convincente e por isto conseguiu se reeleger.
Este recado das urnas ainda não foi entendido pelo mundo. A perplexidade causada pela falta de uma explicação racional para a vitória republicana foi tanta que , no dia seguinte à eleição, um tablóide Londrino estampou na primeira pagina “como podem 59,054,087 de americanos ser tão BURROS”.
Agora meses depois da eleição eu esperava que conseguissem entender o que estava acontecendo por lá. Mas não, a velha explicação para as intervenções estadunidenses ainda é o imperialismo econômico. A única aceita, não só pela esquerda, mas pela opinião pública média brasileira e mundial.
As teorias conspiratórias quanto à participação dos EUA no Tsunami são um exemplo perfeito. As explicações foram as mais variadas uma delas afirmava que o Tsunami poderia ter sido causado por um teste de bomba nuclear submarina (!!!) e como prova disso teríamos uma base militar dos EUA perto da região que foi pouco afetada pelo Tsunami.
Parece piada, mas tem que gente fala sério quando conta essas teorias.
Já a opinião pública média se apresenta de uma forma mais light, mas também não entendeu a mensagem, vou utilizar uma matéria do jornal A TARDE de sábado (15/01/05) no seu caderno cultural como representativa.
A matéria de capa do caderno é a seguinte : “Reprise da Farsa”, um texto de 3 paginas sobre Mark Twain e seu antiimperialismo com o seguinte sub-titulo:
“corajoso opositor das intervenções externas dos EUA e dos impérios europeus entre o final do século XIX e o começo do século XX, o autor de As aventuras de Tom Sawyer ganha impressionante atualidade sob o prisma da invasão do Iraque”
Vocês já conseguem imaginar o que está escrito nas 3 paginas do caderno, não é. As idéias antiimperialistas “ganham impressionante atualidade sob o prisma da invasão do Iraque”.
È a mesma explicação da guerra por petróleo de antes da reeleição, ninguém entendeu o recado das urnas. Ninguém entendeu a exploração política de um medo coletivo em oposição aos seus supostos ganhos econômicos. Não são motivos econômicos são motivos populistas.
Porque se a motivação era de fato econômica, os republicanos não só enganaram a mídia e a população direitinho, mas ainda convenceram os democratas a não denunciar a farsa. Será que só os Brasileiros conseguem enxergar o obvio?
Então voltamos a aquela grande teoria da conspiração da mídia (nos EUA é claro) que inventou a guerra ao terror para esconder a guerra por petróleo. Para os que só assistem Globo é até fácil entender, mas para um povo onde 83% da população tem televisão a cabo e diversos canais de noticias a explicação fica mais difícil, se consideramos que eles tem uma educação muito melhor que a dos brazucas, ou que mais da metade da metade da população tem fácil acesso a internet enquanto aqui a maioria da população ainda depende da grande mídia. A explicação fica ainda mais difícil
No texto de ATARDE o autor Elieser César cita uma passagem de Mark Twain (escrita em 1900) que eu transcrevo aqui:
“Dizemos que existe opinião pública nos Estados Unidos, mas não existe. Nosso pensamento são todos de segunda mão. Quantas pessoas hoje são capazes de decidir se é melhor para o país comércio livre ou tarifas alfandegárias? As únicas opiniões que a maioria de nós tem sobre esse tema são de alguns homens que querem influenciar a nossa forma de pensar,...”
A passagem é utilizada para mostrar que o pensamento de Mark Twain continua atual, que os EUA de 105 anos atrás ainda é o mesmo hoje(!!). O ódio a Bush e a certeza que o motivo foi o petróleo é tanta, que qualquer argumento se torna razoável.
Ao contrário do que justifica ATARDE, nestes 105 anos os EUA mudaram muito e pra melhor, não há mais espaço para as intervenções imperialistas do jeito que ocorriam, não há mais como manipular a opinião pública como era feita nesta época (não existia TV e o radio era luxo). A época do imperialismo econômico feito a partir de guerras acabou, pois hoje é preciso primeiro convencer a população que é muito mais informada do que era antes.
Um acordo na base de Alcântara com os EUA não pode, mas um igualzinho com a Ucrânia pode. ALCA com os EUA não pode, mas livre comercio com a União Européia pode. O fim da necessidade de saber inglês para virar diplomata é mais um exemplo entre vários.
O antiamericanismo como religião laica brasileira já é uma realidade que poucos tentam negar, portanto lá vou eu para a vala comum dos “Lacaios do Imperialismo Ianque”.
Mas, das duas uma ou os estadunidense estão sendo enganados pela mídia deles ou nós estamos sendo pela nossa.
André Greve Pereira
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