domingo, novembro 27, 2005

Lavoura Arcaica e Virgens Suicidas


Vi esses dois filmes recentemente, ambos com a mesma temática: conflito familiares entre pai(s) e filhos, conflito entre a tradição e a liberdade, etc...
Dois bons filmes, compentes e tudo mais, o que me lembrou que segundo Contardo Calligaris, a relação de conflitos entre pais e filhos se dá simbolicamente (discussões) quando a relação entre os dois é real (um respeita e considera o outro como deveria) e os conflitos se tornam reais (como nos 2 filmes) quando a relação entre os dois se torna meramente simbólica (não uma relação paterna ou materna, mas uma relção entre opressor e oprimido)
Não sei se consegui ser claro, mas não faz mal.

Proxima reunião domingo, lá em casa, lá pelas 17-18horas, tendo como tema central os limites da democracia.

Um comentário:

Anônimo disse...

Feijão, tem uns lances nesse "Lavour Arcaica" que eu queria até discutir com você. Tanto nele como no "Manderlay", aquele que segue o Dogville e que agente viu lá no Bahiano, apresentam alguns exageros ou distorsões de fenômenos sociais, ainda que com fins puxar o espectador para o aspecto principal do filme, que com certeza não é analisar minuciosamente as relações sociais.
(Tentando resumir...)
Quando em Manderlay os escravos resolvem se submeter a uma repressão que para eles aparece com normal ou necessária, tendo em vista as próprias condições de existência que apresentam, fica muito forçado chegar um aspecto da conclusão que o diretor propõe: a de sugerir que, nos EUA, a forma com que a escravidão foi abolida teria sido precipitada, por um idealismo inconsequente. É uma bobagem achar que a escravidão terminou por causa disso, tendo em vista que os fatores econômicos é que marcam este tipo de mudança estrutural. Qualquer que fosse a forma com que fosse abolida a escravidão ela traria conflitos sociais e difícil adaptação de toda a sociedade (e não só dos negros). Se ele acha que os idealismos que existem por aí são hipócritas e acabam em poços profundos de contradição - o que é outra idéia característica do filme - ótimo, mas achar que a abolição da escravidão nos EUA foi resultado disso, eu acho uma precipitação. Não conheço nada de História dos EUA, mas não precisa ser marxista para achar que a economia não é menos determinante nestes fatos históricos.

Quanto ao Lavour Arcaica eu acho que o autor, talvez de própósito ou por estar vinculado ao romance do qual a idéia do filme foi tirado, deixou de lado a idéia de que o tabu do incesto não é apenas uma deliberação autoritária de um pai disciplinador, mas um fenômeno social responsável pela própria vida em sociedade. Se o tabu existe, é para garantir que as famílias possam trocar suas crias com outras e assim firmar os laços sociais, e não para satisfazer a um delírio dos patriarcas de plantão. O diretor do filme não trabalhou bem a relação da família principal com as outras, e nem mesmo a relação dos filhos com supostos pretendentes "externos". Acho que isso é natural do foco e ele dá a estória, mas fica parecendo que ele quer fazer algum tipo de crítica ao tradicionalismo das famílias em reforçar o tabu do incesto(!). Seria no mínimo pretencioso tentar isso num filme.

Rodrigo Lessa