sexta-feira, julho 07, 2006

Os Pressupostos das Cotas Raciais

Faz algum tempo o Leo, que escrevia no Gustibus, não gostou da confusão de termos que o Márcio Pochmann usava e foi tentar entender o que era que ele chamava de "empobrecimento da classe média", e encontrou ele falando isso aqui:

Em 20 anos, como ficou a qualidade de vida da maioria da população?

MP - Depende da lente que usamos para analisar. Tomando como referência o IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), que é uma tentativa de síntese, teria havido aparentemente uma melhora. Precisamos discutir com maior profundidade o conceito de desenvolvimento humano, sustentado sobre três indicadores gerados em um ambiente neoliberal, que permite países regredirem econômica e socialmente - como é o caso do Brasil - e melhorem no IDH. Isso mostra a contradição dos indicadores.

Qual a sua avaliação das transformações sociais tendo como base o IDH?

MP - Do ponto de vista do balanço das duas ultimas décadas, a expectativa média de vida aumentou em geral. O que represente deixar de viver 60 anos na pobreza para viver 70 anos na pobreza extrema? É um ganho viver mais, sem dúvida. No entanto, viver dez anos a mais na extrema pobreza é desenvolvimento humano? A pessoa continua pobre durante mais tempo. Apresenta-se isso como melhoria humana. Eu concordo, mas o indicador precisa ser mais bem qualificado. O outro indicador aponta que caiu a taxa de fecundidade de forma substancial, especialmente nas famílias pobres, reduzindo inclusive a mortalidade infantil de forma expressiva. Parte da explicação pela queda da mortalidade infantil é que as mulheres pobres deixaram de ter filhos. Devemos levar em consideração que o filho que não nasceu não pode morrer.

O pressuposto é que o IDH não é um estimador confiável do 'desenvolvimento econômico e social'.
Como o principal e mais popular indicador sócio-econômico não colabora com a análise, ele rejeita-o.


Está em discussão no congresso um tal de Estatuto da Igualdade Racial instituindo uma política de cotas raciais nas universidades. Eu não gosto nada da idéia, o Shikida e o RA também não.
Mas com toda essa discussão de cotas raciais me lembrei da apresentação do tema de um colega meu de faculdade que tinha como assunto: Coisa de negro: A cor da pobreza no Brasil.
O trabalho é um exemplo de safadeza intelectual, ao propor o tema e apresentar o problema o autor afirma que já tem a conclusão (até porque como militante do movimento negro, não poderia ser diferente), mas que ia fazer a monografia assim mesmo só para 'provar' a sua ideologia e mostrar que a economia não é feita só de luta de classes (na minha faculdade nem se cogita o termo, fatores de produção).

Quando questionado sobre os dados que utilizaria; se seria uma análise econometrica, estaria a educação incluída nas variáveis explicativas? Ele foi taxativo, não pretendia utilizar educação como variável explicativa pois ela seria tendenciosa, afinal a população negra sofreria preconceito para adquirir educação.

Como o autor já tem a conclusão do trabalho na cabeça, eu aposto que ele vai conseguir 'prová-la', e se alguém perguntar porque educação não consta como variável explicativa da pobreza da 'população negra', ele pode até imitar o Márcio Pochmann.

Update: Utilizar a educação é importante para se medir a influência da cor na pobreza, pois se fizermo uma analise definindo pobreza como renda individual mensal, perceberemos que a raça é uma variável explicativa tendenciosa, pois uma raça tem menos educação que a outra e porcausa disso (e não da cor) sua renda é menor. Incluir váriaveis geográfica também é importante... mas enfim, esse update foi só para esclarecer.
O Gustibus indica mais um fã da reserva de mercado, dessa vez na seleção brasileira.

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