sexta-feira, dezembro 09, 2005

A Culpa é do Capitalismo


Não foram poucas as vezes que vi uma pergunta da platéia constranger um palestrante que não deveria se sentir constrangido por isso.
Foi no seminário Industrias Culturais, após a palestra do chefe da Central do Carnaval, alguém perguntou a ele para dissertar sobre o racismo e as desigualdades do carnaval. Uma pergunta que tinha como objetivo constranger o palestrante e que foi recebida com uma salva de palmas pela platéia.
Nos dias de hoje demonstrar um caso de sucesso pessoal é reacionário, legal mesmo é mostrar um caso de fracasso (bastante aplaudido) de um "poeta/escritor/compositor" que quer ajuda do governo como solução para seu fracasso.

Mas sim, a resposta que ele deu foi horrível, chamou a pergunta de discurso negativista. Vamos ao que interessa, qual deveria ter sido a resposta do reacionário de plantão, o chefe da Central do Carnaval no caso.
Bastava explicar ao sujeito que ele não liga a mínima pra isso, que o negocio dele é ganhar dinheiro, cash, money. Que se tem desigualdade e racismo no carnaval, não venham reclamar com ele.
Ele deveria explicar também que é exatamente para isso que existem os políticos, e se ele quer mudar as regras do jogo (do capitalismo) que ele se filie a um partido de esquerda, que vá reclamar do prefeito, do governador e do presidente.
Porque as regras como estão colocadas (o capitalismo do jeito que está) o obriga a buscar quase que exclusivamente o lucro, que ele só vai mudar de comportamento se as regras do jogo mudarem.

Se tivéssemos um marxista ortodoxo seria ótimo para explicar a todos que a luta política na se dá pelo convencimento ou constrangimento de palestrantes, mas pela expropriação deles, pela luta política, pela união do proletariado, blá blá blá...
Na pratica isso só afasta esses palestrantes, lembra Boxel daquele cara da Propeg que falou na Facom, você acha que ele volta lá algum dia? Hahahhahahha

Um comentário:

Anônimo disse...

Pois é, pelo que você está me falando eu também concordo que a pergunta sobre racismo tenha sido uma bobagem.

Quando agente estuda em Marx a hábil capacidade do capital se reproduzir quase que sozinho, encontramos logo nos primeiros capítulos do livro o que ele chama de "personificação do capital". Embora o burguês ou capitalista tenha um viés de consciência humana quando extrai a mais-valia do trabalhador ou o põe em difíceis condições de trabalho, para Marx ele é um mero instrumento que o capital utiliza para se reproduzir. Não se pode cobrar um tipo de opinião semelhante a de trabalhadores ou simpatizantes políticos da classe porque o capital no seu próprio movimento, desfaz qualquer impedimento moral a sua reprodução, esteja na sociedade ou na cabeça do próprio capitalista.

Quem acha moralmente vil a extração de trabalho excedente com certeza não vai achar mais se detiver capital em suas mãos, porque na verdade é você que vai estar nas mãos dele.

O que eu tenho percebido é que geralmente este tipo de moralidade se desfaz na cabeça do capitalista através de um fomento de outros valores morais até mais fortes. Geralmente, se um pai faz de tudo, junta dinheiro e adquire poder com suas posses, é quase sempre pra poder dar uma boa (que aqui é ótima financeiramente) condição de vida aos filhos. Quando Jorge Amado fala dos coronéis do cacau é só isso que dá. Todas as mortes e desapropiações ilegais que eles cometem é pra poder botar o filho pra estudar na cidade, e quando ele virar "dôtor" voltar e comandar toda a região.

Tem eles culpa de querer isso para os filhos? Não é algo parecido o que todos nós iremos querer para os nossos filhos (e é que teremos)? O cara da central do carnaval também não pode ter tanta culpa assim.
Por fim, neste contexto o que pode mudar é apenas a nossa forma de ver uma "boa condição de vida" para nossos filhos, que deve envolver menos posses e mais uma série de outros valores moderninhos e pós-moderninhos.